Uma simpática vila com ares medievais ladeada de muralhas, onde reina um castelo. Com origem que remonta ao ano de 1195, Óbidos é uma das regiões de Portugal que ainda preservam os traços da Idade Média, uma verdadeira joia do país. Por dentro dos limites amuralhados, saltam aos olhos as casas caiadas em branco, azul e amarelo, adornadas por flores coloridas. No alto, o imponente Castelo de Óbidos, do século 14, é o dono da paisagem, que se completa com igrejas, restaurantes, cafés, lojinhas de artesanato e outros pontos comerciais, que se distribuem pelas ruazinhas estreitas da vila murada. Por fora dos muros, mais uma lista de atrativos.
Óbidos, cujo nome quer dizer “cidadela”, ou “cidade fortificada”, foi tomada pelos Mouros em 1148, antes de receber a primeira carta de foral em 1195, durante o reinado de D. Sancho I. A história conta que a vila fez parte do dote de diversas rainhas portuguesas. É a partir da cidade que surgiu o concelho das Caldas da Rainha, antes conhecido como Caldas de Óbidos. Na época do fim de ano, já é tradição a Vila de Natal, na qual a cidade se transforma para vivenciar a data.
Castelo
Na parte mais alta da cidade histórica, o Castelo de Óbidos está em posição dominante, lembrando as raízes da vila. A data da construção não é precisa, mas os primeiros registros de que se tem conhecimento levam ao ano de 1153. Desde 2007, o castelo figura no conjunto das Sete Maravilhas de Portugal. Quem chega ao local pode visitar apenas a porção externa, já que aí funciona um hotel.
Muralhas
Do alto das muralhas de Óbidos, o visitante se depara com a visão descortinada para toda a cidadela, de onde se pode contemplar a paisagem em um momento de deleite. Nas pontas dos muros, perto do castelo, escadarias chegam ao topo. De formato retangular irregular, a muralha passou por um processo de restauração. Com circunferência de aproximadamente 1,5 mil metros, tem entre seus pontos mais distantes o intervalo máximo de 650 metros.
Porta da Vila
A Porta da Vila murada é o acesso principal a Óbidos. Rica em detalhes, guarda pelo interior uma capela, datada de 1640 e construída em reverência a Nossa Senhora da Piedade. Com o tema da Paixão de Cristo, a decoração em azulejos tradicionais portugueses, de 1740, é uma beleza em particular.
Rua Direita
Ligação entre a Porta da Vila e o Paço dos Alcaides, na entrada do castelo, a Rua Direita é a mais importante de Óbidos. É aí onde estão lojinhas de artesanato, cafés e restaurantes, que conversam com as casas caiadas e floridas.
Pelourinho
Classificado como Monumento Nacional desde 1910, o Pelourinho de Óbidos está na freguesia de Santa Maria, São Pedro e Sobral da Lagoa. A estrutura cilíndrica, edificada em calcário, durante a época medieval, foi lugar de aplicação da justiça, de castigo aos criminosos. Em um dos lados, exibe o escudo com as armas reais e, em outra parte, o camaroeiro de D. Leonor, que a rainha cedeu à vila em referência à rede em que os pescadores lhe trouxeram o seu filho morto depois de um acidente de caça. D. Leonor e o Rei D. João II viveram em Óbidos, e o pelourinho era propriedade da Casa das Rainhas, essencialmente de D. Leonor, que era irmã de D. Manuel. O pelourinho surge no largo central da vila, em curiosa localização em uma rua estreita, no paredão que suporta o chafariz da Praça de Santa Maria, e tem os degraus parcialmente embebidos no muro que separa a rua da praça.
Igreja de Santa Maria
A origem da Igreja de Santa Maria, que se ergue na Praça de Santa Maria, ao fundo da Rua Direita, leva ao século 16, e tem a raiz no período visigótico. Após a conversão em mesquita, no decorrer da época muçulmana, foi reconvertida ao cristianismo depois de D. Afonso Henriques ter conquistado a vila, em 1148, consagrando o templo ao culto mariano. As diversas intervenções na igreja são testemunhas do que aconteceu a partir de 1210, quando Óbidos se tornou pertença da Casa das Rainhas, se beneficiando do mecenato artístico e religioso da Coroa nos 600 anos seguintes. A construção é iniciativa da rainha D. Leonor, esposa de D. João II. É aí o palco do casamento entre o infante D. Afonso (mais tarde rei D. Afonso V de Portugal) com sua prima D. Isabel, em 15 de agosto de 1441, quando ele tinha 10 anos de idade e ela 8.
A igreja passou por um período de desgaste e precisou ser remodelada. A partir de 1571, as ruínas foram transformadas para a configuração atual, sob ordem da rainha D. Catarina de Áustria. Um século depois, novas obras por iniciativa do Prior Doutor Francisco de Azevedo Caminha, que entregam à igreja um programa artístico de gosto barroco (teto, azulejos e telas das naves).
Em trabalhos que misturam sagrado e profano, sensualidade e misticismo, elementos como o portal (que abriga imagem de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da vila), altar, pinturas, esculturas, imagens sacras, azulejos setecentistas, decoração em madeira desenhada, entre diversas obras-primas, merecem admiração. A Igreja de Santa Maria, também chamada Igreja Matriz de Óbidos é a principal igreja da vila e guarda importância patrimonial, assim classificada como Imóvel de Interesse Público. Reflete as características estilísticas de períodos sucessivos, com elementos manuelinos, renascentistas, maneiristas e barrocos.
Igreja de São Pedro
Edificada entre os séculos 13 e 14, a Igreja de São Pedro foi fortemente abalada pelo terremoto de 1755, do que restou apenas o altar-mor em talha dourada com trono e a torre sineira. Aí estão os túmulos da pintora Josepha de Óbidos e do padre Rafael Malhão da Silveira. A arquitetura religiosa exibe elementos barrocos e neoclássicos, com protagonismo para as diversas pinturas de arte sacra. No interior, uma nave única, está o valioso retábulo barroco com a pintura ‘São Pedro a receber as chaves do céu de Cristo’, datada entre o século 17 e ao início do século 18, localizada na parede do lado da Epístola. Em frente à igreja está a Capela de São Martinho.
Santuário do Senhor Jesus da Pedra
Na parte externa das muralhas de Óbidos, fora da vila, está o Santuário do Senhor Jesus da Pedra, inaugurado em 1747. Na estrada para as Caldas da Rainha, o templo está entre os mais relevantes monumentos barrocos em Portugal. Erguido por ordem de D. Tomás de Almeida, primeiro Cardeal Patriarca de Lisboa, e do rei D. João V, o exemplar da arquitetura religiosa conversa com a paisagem rural. No interior, estão a capela-mor dedicada ao Calvário, com uma tela de André Gonçalves, e as capelas laterais dedicadas a Nossa Senhora da Conceição e à Morte de São José, com telas de José da Costa Negreiros. A peculiar imagem de pedra de Cristo Crucificado, em maquineta própria no Altar-Mor, até à inauguração do santuário esteve recolhida em uma pequena ermida junto à estrada para Caldas da Rainha – era objeto de grande devoção. Algumas lendas falam sobre a construção do Santuário do Senhor Jesus da Pedra, e têm em comum o relato sobre os maus anos agrícolas e as doenças, para as quais a imagem do Senhor da Pedra tinha poder de intercessão.
Lagoa de Óbidos
Tida como de grande importância ecológica, a Lagoa de Óbidos é o sistema lagunar costeiro mais extenso da costa de Portugal. Toma o lugar de uma depressão pouco profunda, com contornos irregulares, e encontra o mar. Considera-se que, em outras épocas, chegava até a beira da colina em que agora se constrói a vila de Óbidos, banhando os muros do castelo a poente. De rica fauna e flora, é também o destino perfeito para quem gosta de esportes náuticos – da vela à canoagem, do stand-up paddle ao mais popular kitesurf – ou quer dar uma volta de bicicleta. Ladeada por bons restaurantes, a lagoa não pode ficar de fora do roteiro de quem vai a Óbidos.
ONDE COMER
Capinha D’Óbidos
Um preparo centenário. O bolo batizado com nome de família, herança que Anabela Capinha recebeu de sua bisavó, é uma das referências gastronômicas de Óbidos. A massa da aclamada capinha d’Óbidos é feita à mão e leva ovos, limão, manteiga e especiarias diversas. Depois, os bolos são cozidos em forno à lenha. No passado, o doce era um bolo de casamento tradicional na região. Era costume que a noiva, no momento do enlace, ofertasse aos convidados um bolo em forma de ferradura (as receitas variam), guardando para si um pedaço – tudo para garantir boa sorte ao casamento. Hoje, para quem chega à vila, bom mesmo é comer.
Capinha D’Óbidos também é o nome de uma padaria tradicional na vila que serve a delícia. Só de estar por perto, chegam aos sentidos todo o aroma dos pães, doces e bolos servidos aí. Saborosos antes mesmo de serem degustados. A massa dos pães é preparada no balcão para depois ir ao forno à lenha. Mais um destaque do cardápio é o pão com chorizo (linguiça), que pode ser apreciado na companhia de um café, além do pastel de nata, ou os doces de laranja e maçã.
Com decoração original e colorida (obras de arte de Cadima Tavares ornamentam as paredes, enquanto o teto exibe mais de mil garrafas em miniatura penduradas), aí o atendimento é cortês, e completa a experiência. Ideal para o lanche, essa padaria, inaugurada em 1883, também está entre as mais famosas da vila. Difícil é escolher entre os diversos tipos de pães e bolos que a casa oferece, dentro do menu que tem ainda variedade de bebidas frias e quentes, e mais opções da culinária portuguesa.

Ginjinha de Óbidos
Quem visita Óbidos não pode deixar de provar dois clássicos da vila: a ginja de Óbidos, um licor típico local, e o chocolate, que podem ser degustados juntos. O licor é feito de um tipo de cereja selvagem, chamada ginja. É desse fruto amargo, pequeno e avermelhado que nasce a bebida artesanal tão querida em Portugal. A iguaria docinha e de sabor pronunciado é conhecida por ginja ou ginjinha. Existem ginjinhas famosas em outras cidades, como Lisboa e Alcobaça (sempre diferentes), mas uma das ginjinhas mais celebradas do país é justamente a que é feita em Óbidos. Na vila, muitas vezes é servida em um copinho de chocolate, tornando a experiência ainda mais sensorial. As ginjinhas de Óbidos e de Alcobaça têm em comum a origem – trata-se de uma receita monástica. Conta a história que os autores do preparo eram os monges dessas regiões, pelo menos desde o século 17. Não são usados corantes, mas algumas vezes são adicionados aromas como canela ou baunilha, nesse licor que é ainda reconhecido como um excelente digestivo genuinamente português. A boa pedida é mesmo uma pequena dose, já que a ginjinha costuma ter cerca de 20% de teor alcoólico.
Em Óbidos, a bebida pode ser apreciada em copinho de chocolate ou em uma taça própria para licor, ao gosto do freguês. Se a predileção for pelo copinho de chocolate, depois de beber o licor, é hora de degustar o copo – feito de um chocolate mais amargo para quebrar o adocicado da ginja. Se gostar, leve uma garrafa para casa e mate a saudade da viagem. Algumas garrafas contêm o próprio fruto dentro – dá para saborear a ginja depois de beber a ginjinha. Atenção apenas ao caroço.
Entre os diversos locais que servem a ginjinha em Óbidos, entre barraquinhas, lojas, bares e restaurantes, um deles, e mais tradicional, é o bar Ibn Errik Rex, na Rua Direita, número 100. É o primeiro lugar a vender ginjinha em Óbidos para degustação, ainda nos idos de 1950. Aí, a bebida é feita à moda antiga, com produção própria, completamente artesanal. O ambiente, com decoração que lembra a atmosfera de um antiquário que funcionava no local – e que já servia o licor – é outro ponto a destacar. Além do licor e outras bebidas, o estabelecimento também oferece comida grelhada, tapas, peixes e mariscos, em um menu que explora a culinária típica portuguesa e outras delícias.
ONDE FICAR
Óbidos pode ser conhecida facilmente em um bate e volta de Lisboa. Mas, conforme o roteiro, se incluir outras cidades, pode ser uma boa ideia passar a noite na vila para depois seguir viagem. São várias as opções dentro e fora das muralhas, entre hotéis maiores e pequenas hospedagens. Uma coisa ou outra, a experiência certamente será mágica – tudo aí é calmo e, principalmente depois que o sol se põe, é como voltar no tempo.
Como o acesso de carros dentro das muralhas é restrito, nem sempre dá para chegar com o veículo até a porta da hospedagem – por isso a dica é pensar bem no volume da bagagem ou escolher um hotel que esteja do lado de fora das muralhas. Outro pormenor diz respeito à acessibilidade interna das hospedagens. Alguns hotéis e casas turísticas não têm elevadores, sendo necessário subir escadas. Se é o caso de o hóspede possuir alguma limitação de mobilidade, há que se considerar essa característica.
Com a praia logo ali e o pinhal às costas, em uma falésia sobre o mar, o Marriott Praia D’El Rey está a menos de 10 quilômetros da Lagoa de Óbidos. Entre os 177 quartos, nove são suítes, uns com vista para o mar, outros para o campo de golfe e os jardins. As comodidades de luxo incluem terraços e varandas privativas. A estrutura conta ainda com piscinas interior e exterior, dois bares, ginásio com oferta de personal trainer, spa e atrações para as crianças. As diárias podem chegar a mais de R$ 2.180.
Na categoria 4 estrelas, a Pousada Castelo de Óbidos funciona dentro do Castelo de Óbidos. Uma hospedagem medieval, pertencente ao grupo Pestana, dentro das chamadas Pousadas de Portugal – as pousadas, no país, não são hotéis familiares e com perfil simples, como no Brasil. São, na verdade, hotéis feitos a partir de edifícios históricos, como palácios, conventos e castelos. Não há elevadores, já que se trata de um monumento nacional, mas isso também é parte da experiência de dormir em um edifício original, com todo seu charme e romantismo, o que certamente vale o esforço. É ainda a oportunidade de vivenciar a história do local e despertar a imaginação. O ótimo restaurante é outra pedida. As diárias partem de uma média de R$ 1 mil.
Fora das muralhas de Óbidos, está a acolhedora Casa do Relógio, um cantinho familiar, simples e muito bem cuidado, uma boa indicação para quem quer fazer da noite em Óbidos uma experiência genuína. A origem do edifício leva ao século 18. Há quartos para duas e três pessoas e a diária custa, em média, pouco mais de R$ 320. Não tem elevador.
COMO CHEGAR
Óbidos e Lisboa estão próximas. Entre as duas cidades, duas são as melhores formas de transporte. Pelo transporte público, o trem regional 6409 parte da capital portuguesa com destino a Caldas de Rainha, e é possível descer na estação Óbidos. A viagem sai da estação Santa Apolónia de Lisboa, perto do Museu Militar, e demora cerca de 2h20.
Se a ideia é viajar de carro, o caminho segue em direção ao norte, tomando a avenida A8 até chegar à N114/N8. Depois, é só seguir até chegar à saída de Óbidos (há placas indicando todo o percurso). O trajeto de cerca de 85 quilômetros leva 1h10 para ser feito, em boas estradas, e o bonito visual completa o passeio.

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