Labirintos de ruas e becos estreitos, a cada esquina testemunhos da história. Templos romanos, praças e edifícios mouros, igrejas em estilo gótico-manuelino, capela feita com ossos, ruínas, museus. Por toda parte, os icônicos azulejos portugueses, grandes conjuntos de casas caiadas, vinícolas majestosas. Évora, uma das joias do Alentejo, em Portugal, se esparrama dentro e fora das muralhas.

Tudo aí é uma mistura de culturas, já que Évora foi conquistada por diferentes povos seguidamente até ser retomada pelos portugueses. O primeiro registro de habitação humana leva aos celtas, depois os romanos chegaram e construíram a famosa muralha que circunda a cidade, antes de ser conquistada pelos mouros. Houve um tempo de dominação muçulmana e, finalmente, de volta ao comando dos portugueses.

Uma história que chega a vestígios pré-históricos, de mais de cinco milênios, como comprovam monumentos megalíticos perto da cidade. Os indícios arqueológicos mais antigos são entre os séculos 2 e 5 antes de Cristo – ainda imponentes no Centro da cidade, as ruínas do templo romano lembram o século 1. 

A fundação remonta ao ano de 1166 – a criação oficial é a data da reconquista cristã, quando Évora foi tomada aos Mouros. A época de ouro leva ao século 16, nesse tempo morada dos reis de Portugal. Em 1986, recebeu o título de patrimônio mundial pela Unesco.

Passear por Évora é sentir o passado e vivenciar todo o encanto de um lugar com muita coisa para contar. Ainda que tenha vivido o domínio estrangeiro, a região nunca perdeu a identidade lusitana. Riqueza que faz de cada parte da cidade única e cheia de preciosidades para os mais curiosos.

Templo Romano

Erguido provavelmente no século 1 em reverência ao imperador Augusto, o Templo Romano está na lista dos mais importantes monumentos romanos em terras portuguesas – é herança da época de domínio de Roma no país, com as clássicas e inconfundíveis colunas, avistadas de longe. Também chamada Fórum, da construção original, de quase 2 mil anos, permanecem o pódio e as colunas. Entre a catedral e a praça Jardim Diana, está no ponto mais alto da cidade. Aí perto também fica a Biblioteca Pública de Évora, palco de exposições artísticas e acontecimentos culturais.

As ruínas do templo foram remodeladas com o passar dos anos. No decorrer da era medieval, a base e as colunas viraram parte das paredes de um prédio e o espaço foi usado como um açougue do século 14 até 1836. Isso acabou preservando as características remanescentes da época romana. Em 1871, as adições medievais foram removidas e o templo começou a ser reconhecido como um marco histórico e ponto turístico, um dos mais antigos de Évora.

Praça do Giraldo

Em Évora, todos os caminhos levam à Praça do Giraldo. No coração da cidade e um dos ícones da região, foi construída entre 1571 e 1573 lembrando o nome de Geraldo Geraldes, o “Sem Pavor” – a denominação foi estabelecida pelo personagem lendário da história de Portugal, à época das lutas da Reconquista, ter cedido seus préstimos para combater e ajudar a retirar os mouros do território português. 

Em lugar de destaque, a fonte barroca em mármore com oito bicas simboliza as oito ruas centrais que desembocam na praça. Aí também está a Igreja de Santo Antão, além de estabelecimentos comerciais, cafés, bares e restaurantes, que formam o belo conjunto arquitetônico dos prédios ao redor – a praça é endereço de alguns dos edifícios e monumentos mais importantes da província. O fervilhar de gente chama ao encontro no almoço ou para o happy hour.

Convento dos Loios

O Convento dos Loios foi construído onde antes existia um castelo medieval, edificado em uma mescla dos estilos mudéjar, gótico e manuelino, testemunho arquitetônico de épocas diferentes. A primeira pedra da edificação foi lançada em 1487, por iniciativa do primeiro conde de Olivença, D. Rodrigo de Melo, guarda-mor do rei D. Afonso V, e também Governador de Tânger, que dois anos antes iniciara a construção da igreja anexa (da invocação de São João Evangelista), destinada a panteão de família.

No piso térreo, a entrada da antiga Sala do Capítulo, já quinhentista, rasgada por um exuberante portal com arcos em ferradura, perfeito exemplar da arquitetura regional manuelino-mudéjar, salta aos olhos. Nessa mesma porta, está um medalhão evocando a participação de D. Rodrigo na Batalha de Azamor, em 1508, data aproximada das obras que compõem essa sala. O convento foi bastante danificado com o terremoto de 1755, e agora abriga a Pousada dos Loios. É classificado como Monumento Nacional desde 1922.

Museu de Évora

Vários museus contam a história de Évora e do Alentejo, na cidade que também é chamada cidade-museu. Para quem gosta, a lista dos centros de cultura é convidativa. Dentro dela, destaque para o Museu de Évora. Com mais de 100 anos de fundação, o interior do prédio, por si só, merece a visita. Uma coleção de arqueologia está entre a exposição permanente, à qual se unem mostras temporárias sobre vários temas, em um panorama da arte lusitana ao longo do tempo. Em lugar de protagonista, o conjunto de 13 painéis que retratam a Vida da Virgem, e seis painéis menores com a Paixão de Cristo, pintados em meados do século 15. Aberto de terça a domingo, esse é o principal museu de Évora, tido como um verdadeiro tesouro histórico.

Maior catedral medieval de Portugal, a Sé de Évora, também conhecida por Catedral de Évora e Basílica Sé de Nossa Senhora da Assunção, teve sua construção iniciada em 1184 e ficou pronta em 1250, sendo que a inauguração aconteceu antes da conclusão da obra, em 1204. Com cada povo que dominou a cidade murada, a catedral passou por mudanças ao longo do tempo, e assim retrata estilos e épocas históricas diferentes. 

Com traços góticos e românicos, toda feita em granito, é cheia de detalhes, com destaque para as estátuas dos apóstolos. Do alto do telhado, no terraço que é o ponto mais alto de Évora, um lugar privilegiado para avistar a cidade. Em 1988, a catedral foi declarada patrimônio pela Unesco. Localizado em dois pisos da casa contígua, na catedral da Sé, o Museu da Arte Sacra da Catedral de Évora expõe uma das mais importantes coleções de arte sacra de Portugal.

Rua 5 de Outubro

Passagem obrigatória para quem chega a Évora, a Rua 5 de Outubro tem de tudo um pouco. Estar na via de traçado irregular é ter contato com o artesanato, lembranças e produtos locais. Além das peças que simbolizam o Alentejo, a rua guarda tesouros arquitetônicos. Com um burburinho cheio das cores de suas paisagens e transeuntes, é o lugar certo para quem adora fazer comprinhas durante o passeio.

Paço de São Miguel

Um dos edifícios mais emblemáticos de Évora, envolto pela aura própria do que a história cria com o passar dos séculos, o Paço de São Miguel é palco de memórias. Lugar da realeza durante a Idade Média, foi morada para os reis de Portugal da primeira dinastia, e também serviu de base militar ao Condestável D. Nuno Álvares, fronteiro-mor do Alentejo. Convertido em sede da Capitania-mor de Évora no século 15, tornou-se residência dos poderosos Condes de Basto, que solicitaram o fantástico conjunto de afrescos que reveste os tetos dos salões nobres, exemplares raros de pintura que mistura o profano e o mitológico, características do período.

Com o decorrer dos anos, o Paço de São Miguel viveu uma época de sombras, e em meados do século 20 encontrou um avançado estado de degradação. Em 1957, o filantropo e mecenas Vasco Maria Eugênio de Almeida determina a revitalização do lugar e o complexo de edifícios que completavam o conjunto. Aí fixou residência e estabeleceu sede da Fundação Eugénio de Almeida, que criou em 1963. Classificada como Monumento Nacional, a construção mistura traços italianos, renascentistas, inspirações muçulmanas e vestígios de estruturas góticas.

Palácio dos Duques de Cadaval

Pertencente à família dos duques de Cadaval que vem passando por gerações até os dias atuais, o Palácio Cadaval, em frente ao Jardim Diana, ao lado da igreja São João Evangelista (propriedade do palácio) e às ruínas romanas, foi erguido no século 14. Espaço pequeno, é morada da Duquesa de Cadaval e seus parentes, mas a igreja e parte das salas são abertas à visitação do público. A capela acoplada ao palácio ressalta os azulejos típicos de Portugal. Aí está também um ambiente museológico onde ficam expostas pinturas antigas, móveis, antigos manuscritos, uma coleção de códices iluminados, armaria e esculturas. A visita inclui a igreja dos Loios, também posse da família.

Igreja de São Francisco – Capela dos Ossos

Não é uma metáfora. A Capela dos Ossos é, de fato, uma capela ornamentada com ossos humanos. Por curiosidade ou para abrir a cabeça e enxergar a morte e a vida por outra perspectiva, a visita é obrigatória, ainda que seja um lugar tão inusitado. Uma das atrações que mais chamam a atenção em Évora. A história que circunda a capela há que ser conhecida. A construção é do século 17, por iniciativa de um frade que queria lembrar seus companheiros de que a vida é finita, transitória. Logo na entrada, a frase Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos demonstra a intenção.
As estimadas 5 mil caveiras humanas, que estavam enterradas em cemitérios da cidade, passaram a decorar a capela, como idealizaram os monges franciscanos, já que os cemitérios ocupavam muito espaço. Há algo diferente em ver ossos, crânios humanos e esqueletos que forram todo o interior, mas a perspectiva sobre a fragilidade da vida humana é o que importa. A luz que adentra o ambiente, direcionada para os esqueletos, forma um visual surpreendente. Quem vai à capela pode conhecer também uma coleção de presépios.

A capela está localizada na Igreja de São Francisco, edificada entre 1480 e 1510, em estilo gótico-manuelino. A nave única, coberta por uma imensa abóbada de pedra, é uma obra-prima da arquitetura gótica portuguesa. Ornamentos em cada uma das capelas internas, especialmente na capela da Ordem terceira, recheiam a igreja por dentro.

Igreja da Misericórdia

Localizada no Largo da Misericórdia, bem no caminho entre as Portas de Moura e a Praça do Giraldo, à sombra de majestosas árvores que a protegem do calor alentejano, a Igreja da Misericórdia é um importante monumento religioso de Évora.  Determinada pelo rei D. Manuel I, pela rainha D. Maria, sua mulher, e pela rainha-viúva D. Leonor, sua irmã, a fundação da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia data de 7 de dezembro de 1499. A primeira sede foi a Capela de São Joãozinho, anexa ao Convento de São Francisco. A transferência para o lugar onde fica hoje aconteceu durante o reinado de D. João III. 

A Santa Casa da Misericórdia esteve desde sempre ligada à religião e à igreja. Do desejo de ampliar o campo de atuação e ajudar os mais desfavorecidos, no campo material e espiritual, nasce a Igreja da Misericórdia.

De perfil clássico, sóbria, a igreja guarda um lindo conjunto de arte barroca dos séculos 17 e 18. Com construção iniciada em 1554, em nave única e planta retangular, é uma das mais encantadoras igrejas de Évora. A magnífica decoração com azulejos azuis e brancos, de 1715, é composta por sete painéis representando as Obras de Misericórdia e é um dos mais importantes conjuntos azulejares de autoria da oficina lisboeta de Antônio de Oliveira Bernardes.

A nave é atravessada por um grupo de sete telas barrocas da autoria do pintor eborense Francisco Xavier de Castro. No altar-mor, o retábulo do Estilo Nacional, de oficina eborense, do início do século 18, é mais um ponto a destacar, assim como a representação a óleo da Virgem da Misericórdia, na parede do fundo. Um espaço de devoção, cheio de luz e cor que, nos dias de verão, convida a se refrescar no largo com o mesmo nome da Igreja, sentando em um dos bancos do jardim que ali existem.

Igreja Nossa Senhora da Graça

No coração do centro histórico de Évora, a Igreja da Graça, também chamada Convento de Nossa Senhora da Graça, é um lindo expoente da arquitetura religiosa renascentista. Fundada em 1511, está no Largo da Graça. Na fachada, chamam atenção algumas estátuas de atlantes que o povo de Évora apelidou “os meninos da Graça”. Três sinos aparentes ocupam o alto da torre.

Largo da Porta de Moura

Nenhuma visita a Évora é completa sem o passeio pelo Largo da Porta de Moura. Feita em mármore branco, inaugurada em 1556 e no início abastecida pelo Aqueduto da Água de Prata (o chafariz era um dos principais pontos de abastecimento de água na cidade antiga), a fonte renascentista, que aí se destaca, é um lindo exemplo da arquitetura maneirista portuguesa. Obra de Diogo de Torralva, cuja construção foi determinada pelo maior mecenas da cidade, o Cardeal-Rei D. Henrique, hoje está desativada. Ao fundo, as torres da majestosa Sé Catedral.

Entre outros atrativos do Largo da Porta da Moura, está a Casa Cordovil, em frente à fonte, com seu mirante em traçado manuelino-mudéjar, mescla do estilo próprio da expansão (o manuelino) com o estilo de inspiração mourisca (o mudéjar). Entre as torres que abrigam a antiga Porta de Moura, a janela manuelina chamada de Garcia de Resende, poeta e cronista eborense do Renascimento português e autor do Cancioneiro Geral (compilação de toda a tradição poética portuguesa dos séculos 15 e 16), é outro motivo de interesse.

Fundação Eugênio de Almeida

O Centro de Arte e Cultura Eugênio de Almeida recebe o bom gosto das exposições temporárias. O prédio do Palácio da Inquisição, onde se encontra, é um belo exemplar da arquitetura. Espaço dedicado à arte e à cultura, abriu as portas ao público em 2013, depois de uma revitalização do antigo palácio. As chamadas Casas Pintadas, o Jardim Norte, o Páteo de Honra e o Fórum Eugénio de Almeida também fazem parte do edifício. 

As exposições são basicamente focadas na arte contemporânea, mas há lugar para projetos performativos e programas pedagógicos destinados a públicos distintos, com o objetivo de motivar o interesse para as artes. Parte de dois andares que perfazem 1,2 mil metros quadrados, na parte externa o Jardim das Casas Pintadas abriga galeria com uma pintura mural palaciana da segunda metade do século 16, única no país. No geral, a arquitetura e as exposições estão ao nível das melhores casas de cultura e museus encontrados na Europa.

Casa de Garcia de Resende

Obra do século 16, em estilo manuelino-mudéjar, e classificada como Monumento Nacional, a Casa de Garcia de Resende abrigou o cronista e poeta eborense Garcia de Resende. No pavimento superior, as enormes janelas feitas em mármore e granito, representativas da arquitetura manuelina, são um capítulo a parte. Situada na Rua de São Manços, foi edificada com projeto do celebrado arquiteto Diogo de Arruda e exibe uma decoração, em alguns elementos, exótica, por assim dizer.

Antiga universidade

Fundada em 1559, a universidade de Évora é a segunda mais antiga universidade portuguesa. Depois da criação da Universidade de Coimbra, em 1537, surgiu a necessidade de uma outra instituição que servisse o sul do país. A obra foi fundada por determinação do Cardeal D. Henrique (1512-1580). A construção do Colégio do Espírito Santo, casa-mãe do centro de ensino, aconteceu entre 1551 e 1553, e a autorização para o seu funcionamento como universidade foi obtida em 15 de abril de 1559. 

A partir desse ano, até 1759, foi entregue à Companhia de Jesus, formando o corpo de missionários que evangelizaram muitas e desvairadas terras e gentes do Império Ultramarino Português, entre os séculos 16 e 18. Depois de 1759, o Marquês de Pombal, expulsando os jesuítas, encerrou os estudos promovidos por eles em Évora. Por esses corredores passariam inovações pedagógicas de diversos regimes. 

Organizada em cinco escolas (Ciências e Tecnologias, Ciências Sociais, Saúde e Desenvolvimento Humano, Artes, Enfermagem) e a Escola Doutoral – Instituto de Investigação e Formação Avançada, a Universidade de Évora oferece uma formação diversificada e reconhecida em diversos campos do conhecimento, propiciando aos estudantes, oriundos de vários países, um ambiente privilegiado de construção do saber. Em destaque, o foco em biodiversidade, alterações climáticas, energias renováveis e supercomputação. Isso sem contar a edificação que, por si só, enche a cidade de beleza.

Muralhas de Évora

Com construção ordenada no século 14 pelo Rei Afonso IV de Portugal, as muralhas de Évora protegiam a cidade de invasões durante as batalhas. Quase intocadas e muito bem conservadas, fazem o visitante viajar pela história. Aí também estão as torres de observação e as Portas de Aviz. Portais que fechavam a cidade nos anos do domínio pelos Romanos e também na época feudal são testemunhas do tempo.

 Aqueduto da Água de Prata

Inaugurado em 1537, sob ordem do rei Dom João III, o Aqueduto da Água de Prata é uma grandiosa e complexa obra de engenharia hidráulica, entre os principais atrativos de Évora. À época, foi construído para abastecer a cidade com água. São 18 quilômetros de extensão, permeando o caminho da água a partir de nascentes em terrenos do Convento São Bento de Castris até a cidade. Estudiosos apontam que o aqueduto foi construído sobre as estruturas de um aqueduto ainda mais antigo, datado do período romano. É um dos poucos dessa época que seguem em funcionamento.

Para quem aprecia passeios pela natureza, os arredores do aqueduto foram limpos e reformados, constituindo o Percurso da Água de Prata que, em oito quilômetros, pode ser uma ideia para desfrutar caminhadas ou andar de bike. O passeio é gratuito e tem uma vista linda da região do Alentejo.

Megálitos

Representante da riqueza pré-histórica do Alentejo, conjunto entre os mais relevantes da Península Ibérica e mesmo da Europa, os imensos monumentos megalíticos (traduzindo, feitos de grandes pedras) nas proximidades de Évora, e pelo Alentejo Central, são uma atração em particular. Uma viagem pelos monumentos mais antigos do continente europeu, que levam até o período neolítico antigo, entre 5.500 e 4.500 a.C. Pelo circuito, considerando apenas o distrito de Évora, são conhecidos mais de 10 recintos megalíticos, mais de 100 menires isolados, cerca de 800 antas e perto de 450 povoações megalíticas, além de aproximadamente 100 pedras com covinhas, cuja destinação não é ainda conhecida.

A dimensão grandiosa e a quantidade de monumentos megalíticos na região se devem ao fato de que aí é o único local em que se encontram as bacias hidrográficas do Tejo, Sado e Guadiana, os maiores rios do sul de Portugal. Era, por essa razão, um ponto essencial de passagem. As planícies alentejanas eram ideais para as últimas comunidades de caçadores-recoletores (como se chamam as sociedades em que a maior parte do sustento é obtido pela caça de animais selvagens e coleta de plantas silvestres) aí praticarem o seu modo de vida.

A localização dos monumentos pré-históricos foi escolhida, no entanto, não só em função da rede hidrográfica. Também leva em consideração fenômenos astronômicos relacionados com a movimentação anual do Sol e da Lua. Entre diversos monumentos megalíticos nos arredores de Évora, alguns se sobressaem pela importância e grandiosidade.

Um dos muitos menires da região, o Menir do Monte dos Almendres tem o contorno de um ovo alongado e um báculo (cajado) gravado em baixo-relevo na parte de cima, o que representa de forma evidente a importância da natureza no período, ainda mais no que se trata da domesticação de animais.

O Menir dos Almendres está próximo do Cromeleque dos Almendres (o maior monumento megalítico da Península Ibérica e um dos mais antigos do mundo, originado 2 mil anos antes do Stonehenge, na Grã-Bretanha) e ambos estão intimamente relacionados. Avistado a partir do cromeleque, o menir, lugar de sossego, indica o nascer do Sol no Solstício de verão, o maior dia do ano.

Poucos lugares tem uma mística tão poderosa quanto o Cromeleque dos Almendres – nem o próprio tempo pode abalar. O círculo de pedras também fica na freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe. Estar na região é perceber a magia de tempos já esquecidos, que brinca com a imaginação e leva às origens. Uma memória viva, que aguarda o visitante em Évora. 

De proporções gigantescas e retrato evidente de uma era de encantamento pagão, também providencialmente conhecida por Período da Pedra Polida, o Cromeleque dos Almendres é construído voltado a nascente e a poente, situado em uma encosta suave e bem alentejana na Herdade dos Almendres.

Formado por dois recintos, edificados entre o final do sexto e o terceiro milênios a.C., está entre os mais importantes monumentos megalíticos do mundo. No auge, o conjunto abrigara mais de uma centena de monólitos, pedras em granito de tamanhos diversos, dispostas em forma circular ou em elipse. Desses, 95 resistem. O conjunto foi erguido em três fases: datam do neolítico antigo os três círculos concêntricos de monólitos em forma ovoide; o recinto com duas elipses irregulares leva ao neolítico médio e, no neolítico final, ambos os recintos teriam sido modificados para a forma que mantêm hoje.

Também existem pedras de proporções maiores, com formatos fálicos, como o Menir dos Almendres. Estudiosos acreditam que o fecundar do ventre terreno com falos em pedra era uma forma de culto à fertilização das terras para a lavoura – a forte ligação que o Cromeleque e o Menir dos Almendres têm com a agricultura e pastoreio parece ser inegável, ainda que a verdadeira função não esteja clara.

O Cromeleque dos Almendres foi descoberto em 1964 pelo investigador Henrique Leonor Pina, enquanto fazia o levantamento da Carta Geológica de Portugal, e é imóvel de Interesse Público desde 1974. Em 29 de janeiro de 2015, os inquestionáveis méritos arqueológico e científico foram então reconhecidos, quando o Conselho de Ministros o reclassificou como Monumento Nacional.

Com menos de seis mil anos de existência, a Anta Grande do Zambujeiro, ou Dólmen de Zambujeiro, é mais recente que os demais monumentos megalíticos na região de Évora. Está perto de Valverde, e trata-se de um monumento funerário coletivo – as antas (ou dólmens) serviam para enterrar os mortos. 

Tudo era coberto pela mamoa, cobertura protetora da anta, comumente feita de terra e pedras, que tem uma parte vista ainda hoje. Os esteios de granito, com cerca de seis metros de altura, fazem dela, provavelmente, a mais alta anta do mundo, que também está classificada como patrimônio de interesse nacional, desde 1971. É um dos maiores conjuntos do tipo da Península Ibérica. Muitos dos achados arqueológicos durante escavações no local integram o acervo do Museu de Évora.

A Capela-Dólmen de São Brissos fica no distrito de Évora Montemor-o-Novo. Na lista dos monumentos nacionais desde 1957, não preserva a morfologia original, já que foi transformada em capela no século 17. A Anta convertida em ermida, toda caiada e com rodapé azul, ergue-se em um povoado enfeitado por frondosas azinheiras, onde o visitante experimenta a calmaria alentejana e respira o misticismo de um lugar sagrado. 

Da primitiva formação, existem vestígios misturados com a construção da capela. Não é um exemplo isolado de monumento megalítico sujeito a transformações – há inúmeras Antas convertidas em capelas, que a população preserva e venera perpetuando, por via do cristianismo, um culto de longa duração.

A Capela-Dólmen de São Brissos é visitada pelas populações circundantes todos os anos, essencialmente entre a segunda-feira de Páscoa e a quinta-feira da Ascensão. Quem deseja visitar o local pode entrar em contato pelo telefone existente em uma pequena placa no monumento.

Também no município alentejano de Montemor-o-Novo, nos arredores de Évora, a Gruta do Escoural é conhecida pela arte rupestre paleolítica (com gravuras que remontam a 25.000 a.C.) e pela realização de enterros. Está classificada como Monumento Nacional desde 1963. O sítio situa-se entre as bacias hidrográficas do Tejo, o rio Sado, e da região das planícies alentejanas, na Serra de Monfurado, de onde ainda é possível avistar a Serra da Arrábida. Parcialmente selada por um espesso manto de estalagmites, a gruta é composta de várias salas e galerias.

A ocupação inicial remonta ao paleolítico médio – grupos de caçadores-coletores neandertais a usaram como abrigo na prática da caça, basicamente de auroques, cervos e cavalos. Depois, no paleolítico superior, os residentes, constituídos por grupos anatomicamente considerados modernos, deixaram importantes vestígios na caverna – uma rocha-santuário contendo pinturas de animais desse período são testemunhas. 

Mais tarde, no decorrer do neolítico, as comunidades de agricultores e pastores aproveitaram a cavidade natural para sepultar seus mortos. No final do neolítico, a gruta ficou desabitada, mas as populações do calcolítico seguiram na região. Existem restos de um povoado fortificado, bem como de outros povoados calcolíticos, e ainda um tolo megalítico. A gruta do Escoural e a Furninha, na cidade portuguesa de Peniche, são considerados monumentos geológicos e arqueológicos afins e de importância universal.

Em 2009, aconteceram obras de requalificação, as quais dotaram as grutas de um conjunto de condições, a nível ambiental, para preservação dos vestígios gráficos de gravura e pintura. No interior, as intervenções incluíram a instalação de passadiços e iluminação, e no espaço envolvente ao monumento foi construído um novo parque de estacionamento. A reabertura ao público ocorreu em 2011.


Onde ficar

Vila Galé Évora

O hotel Vila Galé Évora abriu as portas em 2015, junto às muralhas e a dois minutos a pé do centro histórico. Em reverência à cultura do Alentejo, tem a atmosfera da tradição e história da região. A decoração bebe na fonte do Cante Alentejano, classificado como património imaterial da humanidade pela Unesco, e também remete à herança muçulmana do Reino Al Andaluz. A arte equestre também encontra referências no hotel, em uma parceria com a Escola Nacional de Arte Equestre de Alter do Chão. O hóspede pode aproveitar a estadia para passear pelo hotel e ver as imagens, as letras das ‘modas alentejanas’ escritas nas paredes, e os trajes típicos dos cavaleiros.

São 185 quartos e suítes amplos e modernos. Guardando a surpresa cromática preparada para total relaxamento, o Vila Galé Évora conta ainda com dois restaurantes, um bar, piscina exterior para adultos e para crianças, com escorregas. O spa Satsanga com vertente médica e tratamentos exclusivos com produtos naturais da região, a piscina interior aquecida, sauna e banho turco, são outras das comodidades. Quando a visita é para negócios, a hospedaria dispõe de um bem equipado centro de convenções, com quatro salas.Aproveitando o hotel de privilegiada localização, o hóspede pode, em uma breve caminhada, chegar à famosa praça do Giraldo, seguir caminho pelas pitorescas vielas e praças de Évora, passando pelo Templo Romano e pela capela dos Ossos, na Igreja de São Francisco, além do Aqueduto Água de Prata. Também pode chegar à Sé Catedral e à universidade. Nas redondezas, estão a Gruta do Escoural, o Cromeleque dos Almendres, o Castelo de Monsaraz, o Castelo de Estremoz e o Paço Ducal de Vila Viçosa.

Onde comer

A passagem pela capital do Alentejo pode ser uma chance imperdível de vivenciar os aromas, sabores e texturas da tão celebrada culinária portuguesa, que bebe na fonte do clima mediterrâneo. A lista de restaurantes em Évora é grande, e cresceu depois que a cidade entrou para a lista de Patrimônio Mundial da Unesco, em 1978.
A praça do Giraldo e as ruas ao redor, especialmente na rua Alcarcova de Baixo e 5 de Outubro (vias somente para pedestres) concentram diversos estabelecimentos. São cafés, bares e restaurantes para todos os bolsos e paladares. Duas dicas são o restaurante Fialho, lar do melhor bacalhau da região, e o restaurante Guião, especializado em cozinha alentejana e com vista panorâmica para a cidade.

A Fábrica de Pastéis, uma encantadora confeitaria expert na produção dos pastéis de nata tipicamente portugueses, é uma boa pedida para revigorar o fôlego depois do dia de caminhada pela cidade. Para quem quer aproveitar uma apresentação tradicional de fado enquanto experimenta os sabores característicos do Alentejo, o restaurante Bota Fora tem no menu versões modernas de pratos típicos, que podem ser degustados enquanto o som do folclore lusitano é entoado. Também não deixe de provar a gastronomia típica alentejana e comer as tradicionais Queijadas de Évora, a Siricaia e o Pão de Rala.

A comida feita em Portugal passa muito pelos doces, conhecidos pelo mundo, mas em Évora dá para conhecer um outro lado do país – as receitas feitas com frutos do mar. Ao longo das praias do Alentejo tem muitos pescadores e pequenos restaurantes. É fácil conseguir tudo fresquinho e temperado com os sabores locais.

Para quem pretende desfrutar da vida noturna, há variedade de bares, cafés, restaurantes, wine bars, boates e pubs, com programação variada. O Culpa Tua, lar dos melhores drinks à base de gin da cidade, é uma opção. Para uma noite diferente, o Bar do Teatro funciona no Teatro Garcia Resende. Já que se trata de uma cidade que recebe milhares de universitários, vale lembrar que, para quem quer conhecer a típica noite jovem da região, uma indicação é o Barue, da Associação Acadêmica da Universidade de Évora, para enriquecer o roteiro da diversão.

Como chegar

Entre Lisboa e Évora, a distância de 137 quilômetros pode ser percorrida de trem, de ônibus, carro alugado, ou através de tours no esquema bate-volta a partir de Lisboa. De trem, a partida é na estação Lisboa – Sete Rios, que tem ligação com a estação do metrô Jardim Zoológico da linha azul. A viagem dura 1 hora e 20 minutos até a estação de Évora. A cidade não tem aeroporto próprio e a principal porta de entrada de estrangeiros é a capital portuguesa.