Esse ano (fevereiro/2023) fizemos uma viagem incrível pelo Vale do Douro, passando por Lamego, Peso da Régua e Ucanha. É claro que queríamos visitar as famosas vinícolas, os ótimos restaurantes e conferir de perto as colinas cheinhas de parreiras, que emolduram o Rio Douro.

Mas além disso, essa viagem teve um significado muito especial, pois fomos em busca das raízes do Marden. Era em Lamego, que o antepassado português dele, o judeu sefardita Antônio Rodrigues de Alvarenga, morava. Foi emocionante estar nos mesmos lugares que ele esteve, há quase 500 anos. Encontramos registro da família no museu e na biblioteca e ficamos imaginando como era a vida ali, naquela época.

O que fazer no Vale do Douro

LAMEGO

Das raízes romanas, aos prósperos séculos 17 e 18, passando pela Reconquista Cristã, Lamego é símbolo da construção de uma nação e seu povo. A cidade portuguesa, nos arredores do Rio Douro, distrito de Viseu, guarda monumentos que são referências nacionais e ícones do patrimônio no país. Lamego revela um importante legado histórico, cultural, arquitetônico e religioso. 

As condições adequadas do relevo e do clima também fazem a cidade ser dona de outros tesouros – o vinho que deu origem ao vinho do Porto, a princípio conhecido como o “vinho cheirante de Lamego”, e o vinho espumante. Passear por ali é uma experiência especial. Um lugar hospitaleiro, aninhado entre toda a beleza do Vale do Douro, que certamente ficará na memória do visitante.  

Santuário de Nossa Senhora dos Remédios

O Santuário de Nossa Senhora dos Remédios é um dos cartões postais de Lamego, emoldurado pelo manto verde do Parque de Santo Estevão, e é dedicado à padroeira da cidade. O conjunto rococó do século 18 é uma visão de monumentalidade. A escadaria barroca, com 686 degraus, leva ao alto, de onde se avista o Monte de Santo Estevão. Painéis, fontes alegóricas, além da visão panorâmica para a cidade enriquecem a composição da escadaria.  Por dentro, os altares em talha dourada, os azulejos com cenas da vida da Virgem Maria, os belos vitrais e o teto enfeitado em azul e branco convidam à apreciação. 

Catedral

A Sé Catedral de Lamego, no Largo da Sé, é de cair o queixo. Na construção, que remonta ao século 12, identificam-se elementos românicos originais, entre outros traços góticos e renascentistas de períodos posteriores. Destaca-se o triplo pórtico, obra manuelina mais significativa desta região do país. Verdadeiramente impressionantes são o altar-mor barroco e as abóbadas das três naves interiores, revestidas com coloridos afrescos com cenas do Antigo Testamento.

Museu

O Antigo Paço do Bispo abriga o atual Museu de Lamego. A construção, que ressalta o estilo barroco, guarda uma das mais significativas coleções de arte religiosa, como as obras de Grão Vasco, incluindo os painéis da capela-mor da Sé, além da tapeçaria flamenga e o mobiliário do interior de Portugal. Testemunhas do barroco português em seu apogeu, os altares e capelas em talha dourada levadas da Igreja do Mosteiro das Chagas ao museu são uma atração especial.

Castelo

O Castelo de Lamego leva ao conhecimento da origem da cidade. A hipótese é que o Bairro do Castelo data da era Romana, onde muralhas e fortificações, acrescentadas pelos visigodos, árabes e depois os cristãos, servem como proteção. Considera-se que a primeira sede de bispado, dos tempos visigodos, teria sido uma casa nesse bairro, com a importância reforçada pela existência da Cisterna do Castelo. A visita é obrigatória – não perca!

Biblioteca

Na Rua Almacave, ao lado da Igreja de São Francisco, está a Biblioteca Municipal de Lamego, fundada em 1989 com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. No acervo de aproximadamente 12 mil volumes, publicações nacionais e internacionais, e coleções de documentos. A biblioteca também funciona como arquivo municipal, conta com sala de leitura, espaço de informática, e oferece todos os serviços gratuitamente. Quem quiser, pode levar um pedacinho para casa. Os livros estão à disposição dos amantes desse universo.

Teatro

O Teatro Ribeiro Conceição ocupa o antigo hospital da Misericórdia, e é considerado por muitos a mais bela sala de espetáculos do interior de Portugal – faz o espectador adentrar a atmosfera das grandes salas de teatro europeias.

Onde Comer

Vindouro Restaurante

Um lugar para desfrutar o prazer à mesa. O restaurante Vindouro, em Lamego, convida a apreciar o espaço, de composição sóbria e requintada, e a culinária, claro. No menu, uma ode aos sabores regionais tradicionais, com pitadas de modernidade. Um dos ambientes, uma sala privada que reverencia ao Teatro Ribeiro Conceição, chama para longas conversas na companhia de quem se gosta, e também de um cigarro ou charuto – é permitido fumar.

Casa Filipe

Localizado por trás da Sé de Lamego, esse restaurante é aclamado por oferecer uma saborosa comida com o gostinho do feito em casa. As espetadas de polvo e à transmontana, o bacalhau assado, os rojões, as febras e as tirinhas de porco, o cabrito e a vitela assados no forno, o arroz com salpicão, a dobrada e os milhos de Lamego são estrelas no cardápio da Casa Filipe. Da mesma forma do que se serve, o espaço também é caseiro e acolhedor.

Pastelaria da Sé

As autênticas e originais bôlas, feitas com massa de pão e textura folhada, são uma das estrelas do cardápio da Pastelaria da Sé, estabelecimento fundado em 1966 em Lamego. Além da tradicional bôla de carne em vinha d’alhos (molho preparado à base de vinagre, sal, alho, cebola e algum outro condimento) e de presunto e fiambre, sempre as primeiras a esgotar, há variações com recheios de frango, sardinha, bacalhau e, o mais recente, vegetariano. Para acompanhar, não pode faltar uma taça de espumante, uma dobradinha obrigatória.  Não podem ficar de fora também os doces conventuais, como os peixinhos de chila, lusitanos, sidônios e alvarinhos. É de comer rezando! 

Pastelaria Scala

Confortável, acolhedora e descontraída. Assim é a Pastelaria Scala, em Lamego. O menu oferece deliciosas opções, no estabelecimento onde o cliente pode tomar um café, ou um chocolate quente e doce, acompanhados de um snack ou um apetitoso bolo.

PESO DA RÉGUA

Peso da Régua é considerada capital da região vinícola demarcada mais antiga do mundo, concebida pelo Marquês de Pombal em 1756. As encostas dos montes do Vale do Alto Douro Vinhateiro guardam uma relíquia de Portugal. É o berço do tão aclamado vinho do Porto, um dos maiores símbolos da terrinha, um verdadeiro néctar que aí se faz há séculos. 

Peso da Régua, à beira do Rio Douro, é rodeada de vinhedos, paisagens tão deslumbrantes e de importância histórica que fizeram parte da região do Douro ser considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Da cidade saíam as vinhas, transportadas em barcos Douro abaixo, para envelhecer nas caves de Vila Nova de Gaia. Peso da Régua é, dessa maneira, o lugar ideal para quem quer aprender mais sobre a arte e o engenho por trás da produção da bebida tão querida pelo mundo.

Com conceito simples, mas de excelência, o turista pode aproveitar todo o charme do restaurante Aneto & Table, em Peso da Régua. A casa surgiu primeiro com a intenção de promover a marca Aneto e vender seus vinhos, que combinam perfeitamente com a gastronomia típica local. No espaço finamente decorado, em uma mescla entre materiais novos e antigos, o cliente encontra pratos de alta qualidade, e pode desfrutar de uma linda visão para o Rio Douro.

UCANHA

Aldeia vinhateira do Vale do Douro, Ucanha é uma antiga freguesia portuguesa do município de Tarouca, no vale do Rio Varosa. Foi vila e sede de concelho até 1836, antes de ser suprimida e anexada ao concelho de Mondim da Beira. O município era constituído pelas freguesias de Granja Nova, Salzedas, Ucanha e Vila Chã de Cangueiros, e ocupava a zona nordeste do atual concelho de Tarouca. A economia baseia-se primordialmente na agricultura, especialmente a vitivinicultura, principal forma de subsistência da população. No caso específico de Ucanha, a baga de sabugueiro possui um peso enorme na economia familiar.

Na cidade, todos os caminhos levam à ponte que, com sua torre fortificada, modelou o desenho geográfico da aldeia. Toda a região é como se fosse um vale encantado – denomina-se assim desde que os monges de Cister ali se instalaram. Dos religiosos, a herança são os milhos no pote e do Marquês de Pombal ficaram as árvores de sabugueiro. Agora, os moradores honrados de fazer parte de um lugar que parece mais cenário de um conto de fadas.

Torre

Sobre o rio Varosa, está a ponte fortificada, que tem a peculiaridade de ter uma torre associada. Na aldeia de Ucanha, era uma maneira de proteção e controle de entrada de pessoas e bens, devido ao papel primordial de cobrar portagem a todos os que pretendiam atravessar o rio. É o pedágio mais antigo da Península Ibérica. No tempo do feudalismo, quando eram escassas as passagens sobre os rios, tal cobrança significava uma renda a mais, e é a partir desse imposto que se compreende a construção e permanência dessa torre em Ucanha, que está ao lado do mosteiro de Tarouca. No início do século 16, o pagamento do pedágio foi extinto, e a torre entrou em decadência, permanecendo apenas como armazém de produtos. Atualmente, está como que despida por dentro, abrigando uma exposição de fotografia e pouco mais. Mas vale a visita – além de voltar na história, a vista é incrível!

Tasquinha do Matias

Na Tasquinha do Matias, toda a dedicação de Filomena Matias para alçar os seus Milhos no Pote ao lugar que lhes são de direito no roteiro gastronômico do Vale do Varosa. O prato, à base de milho, couves e carnes variadas, cozido em um tradicional pote de ferro, é um dos atrativos de Ucanha. Divide o menu da Tasquinha do Matias com as deliciosas sobremesas caseiras, e muitas outras saborosas preparações. Em frente ao restaurante, está uma loja que oferece produtos regionais, como as bagas de sabugueiro, sabões feitos à mão, vinhos e licores da região, doces, entre outros. Aproveite a visita para conhecer a Enoteca Tasquinha do Matias e dar sua contribuição à economia local.

Caves da Murganheira

Visitar as caves da Murganheira é uma experiência magnífica, mesmo para quem não gosta tanto assim de vinhos espumantes. Repousadas no frio úmido das caves de pedra, as centenas de milhares de garrafas proporcionam um espetáculo visual em particular. Quem vai ao local (estão disponíveis visitas guiadas) também pode conhecer e entender o processo da produção do espumante Murganheira que, nascido nas terras férteis do Vale do Varosa, está associado aos mais altos padrões de qualidade.

Mosteiro de Santa Maria de Salzedas

Localizado na vizinha aldeia vinhateira de Salzedas, a três quilômetros de Ucanha, o Mosteiro de Santa Maria é um complexo monástico masculino da Ordem de Cister. Hoje em dia, faz parte da Rede de Monumentos do Vale do Varosa, e é um dos locais mais procurados por quem visita a região. Aí estão guardadas obras dos mais renomados pintores de Portugal, como Vasco Fernandes (Grão Vasco), Bento Coelho da Silveira e Pascoal Parente. Depois da extinção das Ordens Religiosas em Portugal em 1834, a igreja foi convertida em igreja paroquial e parte das dependências monásticas foram vendidas. O mosteiro é classificado Monumento Nacional desde 1997 e, em 2002, o governo Português iniciou o progressivo restauro dos edifícios.

Quinta Val Moreira

Estar no Vale do Douro e não conhecer pelo menos uma das tradicionais quintas produtoras de vinho é como ir a Roma e não ver o Papa. Há visitas guiadas e degustações em lugares como a Quinta do Val Moreira, Quinta do Vallado, Quinta da Pacheca ou Quinta do Crasto. Alguns espaços também oferecem alojamento e contam com restaurantes de gastronomia regional.

Iniciado em 2018, o projeto da Quinta do Val Moreira, em Armamar, um dos concelhos do Alto Douro Vinhateiro, já é detentor de diversos prêmios.  A ideia é abordar a vinificação como era há 200 anos, quando não existiam produtos enológicos e quando se podia interferir pouco no processo de fermentação. Uma filosofia que influencia diretamente no método de trabalho, da uva à garrafa, para chegar a um perfil de vinhos diferenciado.

As castas que se destacam em Val Moreira são as mais comuns no Douro, o chamado “trio ternura”: touriga nacional, touriga franca e tinta roriz. São mais de dez castas no total: tinta amarela, tinto cão, tinta Francisca, Barroca, Sousão, Bastardinha, Malvasia fina, Folgosão, e várias parcelas pequenas. 

Com exposições solares completamente diferentes, surgem vinhos, por assim dizer, irreverentes – fogem um bocado às principais características da região, de vinhos encorpados. A intenção é partir da matéria prima e inovar, mostrar outra realidade que a região também pode ter – no cardápio da Quinta Val Moreira, vinhos frescos e muita acidez, não tão habituais no Douro, além dos concentrados. A espinha dorsal do portfólio são o Val Moreira branco, o Val Moreira Tinto, Reserva branco e Reserva tinto, dentro do conjunto de até 65 mil garrafas produzidas por ano.

ONDE SE HOSPEDAR

Vila Galé Collection Douro

Na primeira região demarcada do mundo, o Alto Douro Vinhateiro, está o hotel Vila Galé Collection Douro. Esculpido na encosta, em frente à Régua, o hotel é dono de um charme que cativa, seja pelas instalações, ou pelo cenário deslumbrante do rio e os vinhedos.

São 38 apartamentos, distribuídos por cinco andares, que primam pelo conforto, em uma composição decorativa contemporânea. A paisagem e o silêncio do local convidam a aproveitar a varanda panorâmica.

O restaurante Inevitável, de inspiração regional e com assinatura do chef Francisco Ferreira, conquista pelos sabores ricos e tradicionais e pela vista, e chama a uma refeição ao ar livre. Já no Satsanga Spa, com a piscina interior aquecida e a piscina de hidromassagem exterior, o hóspede pode aproveitar a união com a natureza, já que suas paredes literalmente se entrelaçam com a rocha, proporcionando um ambiente de tranquilidade e relaxamento.

COMO CHEGAR

Seja o destino pretendido as cidades de Lamego, Peso da Régua ou Ucanha, no Vale do Douro, o turista pode escolher como meio de locomoção trem, ônibus, carro, avião ou limusine, partindo de Lisboa. A distância entre a capital portuguesa e Lamego é 348 quilômetros, 358 quilômetros para Peso da Régua, e, para Ucanha, saindo de Lisboa, são 357 quilômetros.